terça-feira, 4 de maio de 2010







terça-feira, 4 de maio de 2010


A MORTE do GATO

Enquanto o gato que me habitava morria
sete vidas espertas e bem vividas moribundas,
um espelho explode
todo um planeta

Que mais em mim quebra e se esvai?
Como ficar sem os muros
as heras e unhas de gato
as noites de cios vadios
as brigas e a malandragem
os gritos na madrugada
a travessia de rua?

Sem o vício por sardinha
sem a cumbuca florida
de entornar leite ou água?

Sem o dengo
sem a manha
o novelo arrepiado
a poltrona beije rasgada
de afiar vinte garras?

Como largar o poder
de tremelicar e correr
ratazanas e baratas?

A oitava vida parte, lunar,
em tranças pretas e prata

Nenhum príncipe para me acordar
e, também, nenhuma torre
de onde ser libertada

O poeta anuncia:

Desperta! Não morra ainda
Vidas aguardam!
A poesia, sino de bronze,
forja palavras
e acorda a cidade obscura

Morre a pena de mim:
abro cortina e persiana
com a força dançarina de mãos e braços
e felina, a isto não renuncio,
espreguiço para o Sol acolhedor

Espanto a letargia em uma cascata gelada,
coisa que gato abomina

Escovo cabelo, dentes
visto velhas pantalonas
e descalça, me preparo para rodar
outras tantas milhas
por vigílias estreitas,
escarpas não mapeadas

Viagem


Viajei incrivelmente: do presente para o passado, in loco.
Estive no ap. antigo. Não senti saudades. Não sou saudosista. É bom ou mal? Não importa. Viver sim, importa. Um lugar se aprontando para nós _ o novo espaço. Outro lugar se aprontando para outros, o velho/novo espaço. Velho para mim, novo para outro(s). A vida é misteriosa.