domingo, 26 de fevereiro de 2012

Pensando alto.


Será que não foi sempre assim? Homens e mulheres se apaixonam não apenas por uma pessoa, mas pela arte, por exemplo. Ou a ciência, ou por abraçar uma  multidão de famintos, seja a fome do corpo ou da alma.

A sociedade ocidental entre doenças e adoecimentos impõe a aposentadoria. E contraditoriamente também impõe a impossibilidade de morrer. Ou de envelhecer. Isto é real, não está apenas nos jornais, está nos hospitais, casas de repouso e por todo lado. Velhinhas que não estão mais neste mundo, esclerosadas, dementes senis, sofrendo não sabemos como, mas presenciamos horrorizados, com alimentação parietal, impedidas de morrer a morte digna que todos pedimos para nós mesmos.

Felizmente há quem possa envelhecer. Me lembro de Audrey Hepburn, aquela mulher linda de corpo e alma mesmo na velhice, doente, perto da morte. E aquela foto que correu  o mundo? Audrey doente, tendo nos braços uma criança africana em pele e ossos, que provavelmente fosse morrer de desnutrição.

Minha neta tem em seu quarto uma foto de Audrey Hepburn bem jovem e evanescente dançando com um galã. A menina de dezoito anos tem nela um ícone. E Fernanda Monte Negro? Ícones para mim também, entre outras e outros.

O que  há de perene nas pessoas? Haverá algo de perene em nós, homens e mulheres? Não há regras para envelhecer, como não as há para viver, mas cada um de nós sabe que podemos viver e envelhecer bem ou mal. Na arte não há regras, mas há a excelência da obra artística. A excelência que a torna sempre em devir, e atual.

Certamente  os botox e cirurgias perseguindo uma imagem “sempre” jovem, que pesadelo! O profeta Aldous Huksley previu  nosso momento histórico violento, em tantos sentidos. Nosso admirável mundo novo.

Que você, blogueiro, permaneça jovem envelhecendo, em devir, na excelência de sua arte e sua vida. Beijos e boa próxima semana

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Frase de Clarice Lispector

"Eu sou assim, quero tudo e quero agora! Uns chamam de mimada, mas eu prefiro decidida...     "

Para os blogueiros


Clarice Lispector

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Dor humana _ resenha







Filme: A Separação
de Jodaelye Nader az Simin, Irã,  2010.
         
O filme trata de uma família, a mulher o marido e a filha de onze anos, com visto para emigração do Irã para um país mais livre, onde pudessem criar a filha, segundo eles, em melhores condições sociais. O marido, no entanto, sente-se preso ao constatar a demência do pai _ Alzheimer. A família moderna que deseja sair do país se dissolve no conflito do marido/pai e a esposa, que insiste no plano original. O marido contrata uma mulher para cuidar do pai, enquanto trabalha. Nas falhas do plano, entram em pauta os conflitos religiosos _ a impossibilidade, para uma mulher casada tocar no corpo de outro homem, mesmo sendo este um doente e ancião.  

Não se trata de um divórcio à iraniana. Mas antes de dramas e de pessoas. De seres humanos. Um filme no qual podemos nos ver apesar de tão diferentes, ou de tamanhas diferenças culturais e subjetivas.  Atravessando as diferenças podemos nos ver diferentes e semelhantes no ontológico do ser humano, marcado pela singularidade.

Ainda o País das Neves


O nome da mulher personagem central da trama do livro, Komako, estranhamente deixei de mencionar na resenha récem publicada. País das Neves, de Kawabata, gira em torno de mulheres, suas alegrias, encontros, desencontros, e a paixão em viver a vida em plena intensidade. A mulher e o homem, pois são mulheres que vivem em função do homem, as gueixas, embora uma gueixa tenha o direito de recusar qualquer homem, assim como elegê-lo.
Lendo a orelha do livro, escrita por Marina Colassanti descubro, alegremente surpreendida, que o escritor japonez, apoiando-se sempre em pessoas históricas, para escrever seu romance ao longo de 14 anos, revelou ser Komako, que na vida seria a senhora Kiku Kotaka, casada com um alfaiate, gueixa por ele conhecida quando ainda rapaz.
Ao saber do remio Nobel concedido a Kawabata, teria dito a senhora Kotako: "Agora nossas conversas e seu trabalho se tornarão conhecidos no mundo inteiro."
Na contra capa há a foto de alguém que a princípio tive como homem, delicado e frágil, envelhecido, testa grande e um cabelo que me parece curto e grisalho. Mas a foto poderia ser a de uma mulher magra e ossuda, olhos expressivos, mãos grandes, não propriamente bela, caso da gueixa Komako. Se Kawabata cria uma identidade feminina e desmancha a sua, ou se seria realmente uma mulher não importa, pelo contrário, é a sutileza e o mistério que se encontra na obra do grande escritor da Língua Portuguesa, mestre criador de heterônimos, Fernando Pessoa. Um brinde à Literatura.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

O invisível palpavel _ resenha de Eliane Accioly









De Yasunari Kawabata, País das Neves, romance.
Prêmio Nobel de 1968

      Na página título do livro escrevi meu nome e a data de setembro de 1969, quando o encontrei. Na primeira leitura não entrei na trama do autor, como agora, embora o tenha lido. O guardei, e ele me desafiava, a capa branca, ideogramas desenhados em cor bordeaux. A trama do livro, um Chijimi, tecido artesanal tratado com neve e na neve, por tecelãs que vêm de geração a geração, destino traçado antes de nascer. O personagem Shimamura, escrevendo um livro, diz que o Chijimi  não é um produto lucrativo, o processo é a própria continuação de uma tradição milenar, e poucos o conhecem.  Chijimi s,  fios de seda, exigindo o cultivo do  bicho da seda, casulos orgânicos, e seus fios como que tirados da neve. Shimamura homem requintado e ocioso usava quimonos Chijimi, tecido delicioso para o verão, cujos fios finos como o pelo de animais, tramados a bem dizer, na neve. 
      Intuitivamente este livro me acompanha desde então, não me desfiz dele, como de outros.  Há uma semana retirei o livro da estante e o li, não digo reli, porque foi outra primeira vez. Anda me acontecendo diferentes primeira vez, Clarice Lispector e Kafka, por exemplo .  Os benefícios da idade. Em 1968 eu era uma jovem mãe, uma filha de três anos que carregava comigo por onde ia e passava, talvez até na leitura de livros.
      A edição que possuo: Editora Nova Fronteira, tradução de Marina Colassanti, que por sua vez o traduziu do alemão. O título da edição alemã: Schneeland.

      A tradução é primordial, e se precisa orgânica como Chijimi, de cuja trama Kawabata se aproveitou em sua arte. Como dizia Haroldo de Campos não há tradução possível da obra poética, mas trans-criação. O que significa trazer para outra língua a frescura criada pelo poeta. A novidade que o poeta nos traz. A transcriação de Marina Colassanti permite o adensamento saturado de uma leitura poética. O livro é poesia, teatro, romance. Arte.  Estou impactada.
      Um jovem esteta deixa Tóquio e parte a turismo ao País das Neves, região do Japão, no livro, muito especial.  (As regiões de todos os países de nosso planeta são especiais). Ali encontra uma mulher que lhe revela outras formas de vidas, outros jeitos de viver além dos que conhecia, apesar de sua cultura cultivada. A mulher, aspirante à gueixa, ao longo dos poucos anos que se conhecem, entre chegadas e partidas, torna-se uma.  Vivem seu encontro precário entre a neve e o fogo, não apenas metafóricos, como literais, o frio e o fogo, o congelamento e o incêndio, o amor e a indiferença, o vazio e a plenitude.  A precariedade e a força vital do Chijimi, que pode durar várias existências.
      O que o livro me revela o ser humano tão diferente em suas distintas culturas e formas de subjetivação, e a essência, sem omitir a singularidade que marca cada um de nós, é tão reconhecível nas camadas tectônicas.  Somos camadas e eras, cada um de nós.  Quando preciso compreender um pouco mais de ser humana,  o que me chama e incendeia é a literatura, não livros teóricos e/ou empíricos.  Na literatura me encontro e encontro o outro.
      Romance-poema, haicais de Bachô. Sinto-me privilegiada por tê-lo descoberto nos acasos da vida. Marca permanente, parte do tecido do qual me faço.


sábado, 18 de fevereiro de 2012

Minimalista

Fez o impossível acontecer ao transformar a chuva de canivetes, em chover algodão.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

TENTATIVAS FRACASSADAS DE NARRAR


















Desenho a sombra do cavalete,

na tela,   linhas diagonais matam o equilíbrio


Sobre o desenho pinto um buquê bem  colorido, cores quentes,

a diagonal permanece



Cubro a tela com tinta diluída,

escorre,  mais tinta diluída, muita água, escorre

uso um pano, trapo que, quando perco,

se transforma em serpente, se arrastando e fugindo de mim



O buquê de múltiplas cores torna-se agora amarelo-ocre e branco

e dele parte o tronco de uma árvore,

não me convence, a tela permanece  torturada

 

Cores esmaecem, fantasmas nascem,

a narrativa apenas se esboça,

aperto os olhos, vejo a pintura,

incompletude

(Fico devendo a foto do trabalho!)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Aos blogueiros!!!!!!!!!!!



Almoço em família, domingo 12 de fevereiro; na foto três (de meus seis) netos e o maridão.

Pablo Picasso

"Mulher Chorando" : Picasso pintou não apenas um quadro, pintou e desenhou "mulheres chorando". Alguns desenhos foram estudos do pintor quando píntava "Guernica". Uma vez chorei diante de uma "dessas mulheres", que se encontram no Museu Reina Sofia, em Madrid.

Descoberta


O título da obra: "Segunda Guerra"


Kiefer, Anselm (born 1945), German painter, born in Donaueschingen; 1966 left law studies at Univ. of Freiburg to study at art academies in Freiburg, Karlsruhe, Dusseldorf; made huge paintings using symbolic photographic images to deal ironically with 20th-c. German history; developed array of visual symbols commenting on tragic aspects of German history and culture, particularly Nazi period; in 1970s painted series of landscapes that capture rutted, somber German countryside; paintings of 1980s acquired physical presence through use of perspective devices and unusual textures; broadened themes to include references to ancient Hebrew and Egyptian history.

(texto e imagens _ pesquisa no GOOGLE)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Homenagem a Antoni Tàpies



Antoni Tàpies entrou em minha vida no final do ano passado, ou seja, quando soube de sua existência.
Estava vivo, tendo criado uma obra muito importante, do porte da de Picasso e de Miró. Em Barcelona há um múseu de cada um desse três pintoras, dois catalões e um de Málaga _ Picasso.
Como gosto muito de  grafismo,  publico as duas imagens recolhidas no GOOGLE.