sábado, 16 de junho de 2012

De finitude e infinito








Uma crônica



Neste agora ela é mais esquecimento que lembranças. Do que se lembra? Do que se esquece? A sensação regente é real, como o vento que entra pela janela aberta. É como uma notícia que chega e conta que ela se esquece de expressões e palavras de sua infância, regionais, há pouco frescas como fruta ao ponto de comer em pé de árvore, ao alcance.   O esquecimento a esvazia. O silêncio traz o oco fundo. Escorrega em paredes duras e arredondadas, e as abençoa, sentindo-se abençoada.  Não ser o que foi a desconcerta e a desconhece de si e dos outros.  Vagas nostálgicas batem nela e a arrancam da falésia onde se agarrava.  Em seu corpo nascem guelras e barbatanas. Em seus sonhos cobras deixam para trás as velhas peles, e um pardal se incendeia e renasce.  Estranha suas filhas, três mulheres desconhecidas como ela mesma, ou seja, como ela-outra.

Três vezes ao dia os ponteiros do relógio são uma linha reta tendendo ao infinito, apenas por um instante.


3 comentários:

  1. Gosto da sensação de infinito...
    Um grande bj querida amiga, lindo texto.

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  2. Amiga Eliane, lembro-me que quando criança, a ideia de infinito assustava-me. Assustava muito.
    Um abraço. Tenhas um lindo fim de semana.

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  3. Belíssimo texto! um tanto angustiante mas amenizado pela metáfora do relógio como paradígma da busca do infinito.
    Um abraço

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