segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Dor humana _ resenha







Filme: A Separação
de Jodaelye Nader az Simin, Irã,  2010.
         
O filme trata de uma família, a mulher o marido e a filha de onze anos, com visto para emigração do Irã para um país mais livre, onde pudessem criar a filha, segundo eles, em melhores condições sociais. O marido, no entanto, sente-se preso ao constatar a demência do pai _ Alzheimer. A família moderna que deseja sair do país se dissolve no conflito do marido/pai e a esposa, que insiste no plano original. O marido contrata uma mulher para cuidar do pai, enquanto trabalha. Nas falhas do plano, entram em pauta os conflitos religiosos _ a impossibilidade, para uma mulher casada tocar no corpo de outro homem, mesmo sendo este um doente e ancião.  

Não se trata de um divórcio à iraniana. Mas antes de dramas e de pessoas. De seres humanos. Um filme no qual podemos nos ver apesar de tão diferentes, ou de tamanhas diferenças culturais e subjetivas.  Atravessando as diferenças podemos nos ver diferentes e semelhantes no ontológico do ser humano, marcado pela singularidade.

Ainda o País das Neves


O nome da mulher personagem central da trama do livro, Komako, estranhamente deixei de mencionar na resenha récem publicada. País das Neves, de Kawabata, gira em torno de mulheres, suas alegrias, encontros, desencontros, e a paixão em viver a vida em plena intensidade. A mulher e o homem, pois são mulheres que vivem em função do homem, as gueixas, embora uma gueixa tenha o direito de recusar qualquer homem, assim como elegê-lo.
Lendo a orelha do livro, escrita por Marina Colassanti descubro, alegremente surpreendida, que o escritor japonez, apoiando-se sempre em pessoas históricas, para escrever seu romance ao longo de 14 anos, revelou ser Komako, que na vida seria a senhora Kiku Kotaka, casada com um alfaiate, gueixa por ele conhecida quando ainda rapaz.
Ao saber do remio Nobel concedido a Kawabata, teria dito a senhora Kotako: "Agora nossas conversas e seu trabalho se tornarão conhecidos no mundo inteiro."
Na contra capa há a foto de alguém que a princípio tive como homem, delicado e frágil, envelhecido, testa grande e um cabelo que me parece curto e grisalho. Mas a foto poderia ser a de uma mulher magra e ossuda, olhos expressivos, mãos grandes, não propriamente bela, caso da gueixa Komako. Se Kawabata cria uma identidade feminina e desmancha a sua, ou se seria realmente uma mulher não importa, pelo contrário, é a sutileza e o mistério que se encontra na obra do grande escritor da Língua Portuguesa, mestre criador de heterônimos, Fernando Pessoa. Um brinde à Literatura.